sábado, 25 de outubro de 2008

Nada se disse - como quase nada

Hussar

nada se disse - como quase nada

Arrojou-se até ao umbral – nada se disse – arranjou os olhos, preparou-os, incutiu-lhes a apetência, /
o apetite, a aparência – nada se disse – olhou para o umbral: apartou-se do coração, saiu do alcance /
do umbral e foi, por aí, pela terra alcatroada – disse para os olhos: turistas!, turistas nesta noite; sai, sai/ como quase nada – abriu todo o corpo: os olhos, a terra alcatroada – nada se disse – voltou para dentro/ dos passos, empalideceu; alternou dentro dos olhos as presenças arranjadas: dispô-las, supôs a festa/ abeirando-se – nada se disse – alvoraçado no dilaceramento olhou: agora o tolhimento até aos ossos, /
suspendeu os olhos – como quase nada – sabia a boca rasgada /
e rasgaria uma a uma as faces: "qual delas queres" "vá despacha-te" "o coração que trago – trago-o num só/ trago todas as noites – é sempre o mesmo" " não, não me perco – os olhos – esses atravessam/
os ribeiros a galope; os lagos são para olhar através dos olhos dos outros: criam-se e querem-se no lodo"/
" vá tolhe a face" – nada se disse – encastrou-se ao corpo, enroscou-se, viu o coração acabado, fez saltar/ os olhos – como quase nada – mostrou os dentes, agora, postiços, eram um enfeite, noite, noite,/
nada se disse – o umbral ( pensou),/
regressou com os olhos embrulhados, a terra alcatroada, turistas!, turistas!, noite, esse poço/
dentro do corpo ­­– como quase nada – tropeçou nos olhos, o roseiral,/
pétala a pétala viu tudo:/
o corpo seco, a casaca de rosas – nada se disse – /
vestiu-se desse corpo como o de uma pétala, encarquilhou os olhos nele, ( pensou) umbral – nada se disse/ – obscurecido o coração – como quase nada – desconfiou dele./

Sem comentários: